Professor: saiba receber o aluno cego em sala de aula
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
COMITÊ DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE - CIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (NEDESP) – SETOR BRAILLE
Orientações para professores de estudantes cegos
O Núcleo de Educação Especial (Nedesp) – Setor Braille, vinculado ao Centro de Educação, e em atenção às diretrizes do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA), na Reitoria, resolveu elaborar um manual de orientações práticas voltado para os professores de alunos cegos da UFPB. Antes de se pretender um guia, são propostas que visam à adaptação do conteúdo de forma a garantir um maior aproveitamento acadêmico, à luz das especificidades impostas pela ausência da visão.
O Nedesp e o CIA valem-se disto na intenção de promover o ensino de qualidade mediante o uso de alternativas pedagógicas que criem condições de acesso, participação e aprendizagem dos estudantes. As metodologias para incluir tendem a ser ainda mais desafiadoras diante do atual cenário de isolamento imposto pelo novo coronavírus – quando os estudantes com deficiência visual, que até pouco tempo contavam com colegas apoiadores para auxílio nos estudos, agora não mais usam deste expediente.
Maioria dos 27 estudantes atendidos pelo núcleo usa de recursos tecnológicos para navegar e estudar, como softwares leitores de tela presentes em celulares e em computadores. Neste momento, com a UFPB fechada, esta se torna, então, a sua principal forma de acesso ao estudo. O Nedesp, diante das circunstâncias, fica privado das demais funções de impressão em Braille e conversão dos textos do sistema Braille para a tinta.
Para que o aluno faça uma leitura viável por qualquer dispositivo tecnológico, é preciso a atenção do professor: o documento (texto, capítulo, prova ou livro) deve estar “limpo”, ou seja, sem rasuras, grifos, anotações, apagões, hachuras. Como, em muitas vezes, isso não é possível, é aí que entra o trabalho dos transcritores Braille: adaptando o texto para torná-lo inteligível e passando-o, posteriormente, para o aluno. Este trabalho de adaptação compreende também o desmembramento de tabelas e a audiodescrição de imagens, esquemas e fluxogramas (na audiodescrição, a imagem é “traduzida” em palavras). Disponibilizamos o nosso e-mail para o envio dos textos pelos professores: nedesp@ce.ufpb.br.
Seguindo esta perspectiva, destacamos abaixo mais algumas orientações para os professores que atuam com estudantes cegos, extraídas do livro "Orientações para atuação pedagógica junto a alunos com deficiência: intelectual, auditiva, visual, física", da autora Luzia Guacira dos Santos Silva (2010)
Segundo a autora, é importante que o professor, em sua ação mediadora:
• Compreenda que a pessoa cega não vive num mundo escuro e sombrio. Ela percebe coisas e ambientes e adquire informações através do tato, da audição, do paladar, do olfato, dos sentidos sinestésicos e remanescentes;
• Utilize materiais com diferentes texturas e estimule todos os sentidos do seu aluno cego;
• Indique as distâncias dos objetos e coisas em metros, quando houver necessidade. Pode dizer, por exemplo: “A estante está a uns 2 metros à sua frente”;
• Ao orientar o seu aluno cego que direções seguir, o faça do modo mais claro possível. Diga "à direita", "à esquerda", "acima", "abaixo", "para frente" ou "para trás", de acordo com o caminho que ele necessite percorrer ou se voltar. Nunca use termos como “aqui, “ali”, “lá”;
• Fale sempre diretamente ao seu aluno cego, e nunca por intermédio de seus colegas ou acompanhantes. Não evite as palavras "veja", "olhe" e "cego"; use-as sem receio. Todas as pessoas cegas as utilizam no seu cotidiano;
• Nunca exclua o aluno cego de participar plenamente das atividades de campo e sociais, nem procure minimizar tal participação. A cegueira não se constitui em problema para tais atividades. Permita que o aluno decida como participar;
• Proporcione ao aluno cego a chance de ter sucesso ou de falhar;
• Busque estratégias diferenciadas para o trabalho com seus alunos, viabilizando a imaginação, a criatividade e outros canais de percepção e expressão (tátil, auditiva, olfativa, gustativa, sinestésica), além da reflexão, da manipulação e exploração dos objetos de conhecimento;
• Possibilite diferentes instrumentos de avaliação, tais como: prova em Braille (se o aluno souber Braille), oral, apresentação de seminários, etc;
• Permita, durante as aulas, o uso do gravador e de demais recursos de tecnologia assistiva que lhe facilitem o aprendizado;
• Promova atividades colaborativas entre os alunos;
• Verbalize todos os procedimentos desenvolvidos, transmitindo com clareza os conteúdos de forma didática e audível;
• Dê mais tempo para o aluno cumprir suas tarefas e diminua o número de itens nas avaliações. Esta é uma garantia prevista pela Lei Brasileira de Inclusão;
Além das ações descritas acima, é muito importante que o professor:
• Sempre que possível, disponibilize ao estudante cego os textos em formato digital bem como os slides e filmes utilizados durante a aula (desde que em português com audiodescrição) para que, por meio dos recursos de tecnologia assistiva, tenha mais acessibilidade ao conteúdo trabalhado;
• Solicite à turma a compreensão de que é necessário o respeito à fala dos colegas, de modo que o estudante cego possa ouvir, com clareza, a contribuição de todos;
• Compreenda que o excesso de ruídos na sala provoca incômodo e incompreensão no aluno;
• Nas aulas práticas utilize a descrição do experimento realizado e, quando possível, possibilite a exploração tátil-olfativa do material utilizado, desde que não ofereça riscos à segurança;
• Conte com o Nedesp para a oferta de minicursos de Iniciação ao Braille, Orientação e Mobilidade, Audiodescrição e Acessibilidade Atitudinal: nedesp@ce.ufpb.br