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Pesquisadores da UFPB integram grupo que estuda impactos meteorológicos de distantes regiões do globo na Amazônia

publicado: 04/07/2024 18h11, última modificação: 04/07/2024 18h11
Grupo publicou artigo sobre teleconexões, que permitem que acontecimentos em uma parte do mundo influenciem o clima em outra área geográfica

Foto: Gustavo Ribeiro

"O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um furacão no Texas". Você provavelmente já escutou essa frase, cunhada pelo meteorologista Edward Lorenz, em 1961. Nesse mesmo sentido, um grupo de pesquisadores brasileiros, incluindo três cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), demonstrou que a recente seca ocorrida na Amazônia pode ter relações significativas com fenômenos meteorológicos em distantes regiões do globo, que não se encontram fisicamente ligadas. São as chamadas teleconexões.

Esse grupo, em grande parte composto por pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou na revista científica Atmospheric Research um artigo destacando o papel-chave das teleconexões atmosféricas na dinâmica das secas na região da Amazônia Legal brasileira. O estudo demonstra que eventos em uma parte do mundo podem efetivamente influenciar o clima em outra área geográfica. Baseando-se no Índice de Anomalias de Precipitação do Centro Global de Climatologia de Precipitação (GPCC) para o período de 1970 a 2019, o estudo oferece fundamentos para modelos preditivos e estratégias de mitigação, visando combater os desafios climáticos na região. Essas estratégias incluem a detecção precoce da intensidade e das áreas potencialmente afetadas.

O artigo tem como primeiro autor o professor Celso Santos, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (DECA) da UFPB, que também é bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ) do CNPq. Outros três coautores também estão vinculados à UFPB: Richarde Marques da Silva (bolsista PQ), Daris Correia dos Santos e Reginaldo Moura Brasil Neto, ambos alunos egressos de doutorado sob orientação do professor Celso Santos. Também assinam o artigo o professor Carlos Antônio Costa dos Santos (bolsista PQ), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e o pesquisador da Universidade do Sul do Alabama, Estados Unidos, Gabriel de Oliveira.

O estudo apresenta estratégias de gerenciamento de recursos hídricos, fator essencial para a administração sustentável de recursos naturais da Amazônia. Ao longo dos anos, a elaboração e o aprimoramento de sistemas de monitoramento e previsão de secas tornaram-se cruciais, implicando na necessidade de maior compreensão dos processos por trás do desenvolvimento da seca, fenômeno que pode afetar vastas regiões continentais, representando riscos naturais que trazem, ainda, implicações sociais, econômicas e ambientais.

A região amazônica possui características climáticas únicas, com significativa variabilidade sazonal de precipitação. Esse cenário é desafiador, pois áreas com alta precipitação pluviométrica são intercaladas com zonas com menor precipitação. A compreensão dessa variabilidade espacial e sazonal é essencial para se avaliar os padrões de precipitação naquela área geográfica. Embora estudos anteriores já tenham contribuído para a compreensão do quadro na Amazônia, havia ainda uma lacuna na análise abrangente das intricadas teleconexões atmosféricas e sua influência direta nos padrões de seca da Amazônia Legal Brasileira.

A novidade do artigo é o emprego de métodos estatísticos avançados para avaliar a sincronicidade e a divergência entre os principais índices climáticos e sua associação com a variabilidade das chuvas, oferecendo novas propostas sobre os mecanismos subjacentes. Segundo os autores, a pesquisa não apenas contribui para uma compreensão mais profunda das flutuações climáticas regionais, mas também aprimora a previsibilidade de futuros eventos climáticos, informando assim as estratégias mais eficazes de adaptação e gerenciamento de recursos.

Reconhecida como a maior floresta tropical do mundo, a região da Amazônia desperta interesse científico devido à abundância de recursos de água e de energia solar, bem como ao papel crucial de armazenamento de carbono, vital para a regulação climática. A região, porém, experimenta a variabilidade das chuvas diretamente influenciada pelos oceanos Atlântico e Pacífico. As secas graves de 2005, 2010, e do biênio 2015/2016, na Bacia da Amazônia, levantaram preocupações com relação à sua frequência, gravidade e impactos nas florestas do bioma. Esses eventos estavam ligados ao aquecimento das águas da superfície no Atlântico Tropical Norte. Estudos anteriores também demonstraram que, por causa do aquecimento das águas do Pacífico Equatorial central, fenômeno associado ao El Niño, a zona de convergência intertropical muda de forma anormal para o norte sobre o Atlântico tropical. Essa modificação enfraquece os ventos alísios do nordeste, diminuindo a penetração de umidade no interior da Amazônia.

Em 2023, alguns dos autores do artigo também assinaram um texto científico publicado na revista Nature, tratando da ameaça dos incêndios florestais na Amazônia brasileira e, em maio último, também publicaram na Science artigo sobre o delta do Alabama, considerado a "Amazônia dos Estados Unidos", devido à sua biodiversidade.

O professor Celso Santos, em entrevista ao site do CNPq, explica como as teleconexões atmosféricas influenciam a seca na Amazônia brasileira, comenta os resultados da pesquisa do artigo, fala sobre os desafios para levar os resultados da pesquisa à prática e apresenta iniciativas para se mitigar a degradação ambiental. Clique aqui e confira a entrevista completa.

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Com informações do CNPq
Edição: Vinícius Vieira
Foto: Gustavo Ribeiro
Ascom/UFPB