Publicado por Raymara Agra
EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM RETROSPECTIVA 60 anos de CONFINTEA
“Sessenta anos de CONFINTEA: uma retrospectiva”
Ireland, Timothy.
A segunda Conferência Internacional da UNESCO em Montreal
Passaram-se quase onze anos antes da realização da segunda Conferência Internacional da UNESCO de Educação de Adultos, na Universidade McGill, em Montreal, de 22 de agosto a 2 de setembro de 1960. Nela ocorreu a eleição do presidente, Roby Kidd (1915- 1982), fato significativo por si mesmo9 . Esse subversivo e extraordinariamente culto cidadão do mundo, que havia participado das conferências de Pugwash e pertencia ao que se poderia descrever como a Liga de Campeões Educativos,10 ergueu-se a favor de uma educação de adultos que via como inovadora, factível e educativamente responsável. Nunca aceitou a falta de participação governamental na educação de adultos, que era tradicional na Europa, nem abandonou sua independência acadêmica de pensamento. Conseguiu atrair aliados e colegas especialmente dotados do ponto de vista acadêmico para a iniciativa da UNESCO. Por isso, a Segunda Conferência Internacional pode ser vista como a vanguarda internacional da educação de adultos na década de 1970.
Sua preocupação não era apenas com os conhecimentos acadêmicos, mas também com os conhecimentos profissionais práticos. A lista de nomes da Conferência parece um guia de educadores especializados. Mirava muito alto? Talvez, porque o contraste com a primeira Conferência foi enorme. As críticas negativas que encontramos na primeira documentação não poderiam se manter. A Segunda Conferência Internacional diferiu da primeira quanto à sua cobertura geográfica, às pessoas que participaram (entre os delegados alemães estavam H. Becker, H. Dolff e H. Landahl), à previsão, à estrita organização e às conferências de apoio nos níveis regional e nacional. O futuro parecia mais promissor para a educação de adultos, e houve inclusive um aumento da aceitação no que se refere à política educativa governamental, o que se viu claramente nas estatísticas.
Hely oferece o seguinte resumo da cobertura geográfica mais ampla: “[…] dos 51 países representados na Conferência de Montreal, oito eram africanos, dez asiáticos e oito latinoamericanos. Havia delegados da URSS e da Tchecoslováquia, Romênia e Hungria. De um total de 112, apenas 33 delegados, observadores e assessores provinham da Europa Ocidental” (HELY, 1962, p. 13). Ele descreve o aumento da importância dada à educação de adultos nestes termos: “O aumento da quantidade de países representados, de 25 em 1949 a 51 em 1960, é em parte uma medida do nível de reconhecimento que estava ganhando a importância da educação de adultos entre os governos nacionais” (HELY, 1962, p. 13).
A impressão do apoio governamental fica reforçada com a demanda feita pela delegação dos Estados Unidos de que a quantidade de ONG que atuavam como observadoras deveria ser limitada; que sob nenhuma circunstância deveria ser-lhes permitido o direito a voto, e que, no futuro, deveria ser dada uma atenção especial à natureza governamental dessas conferências internacionais. O informe da Conferência diz o seguinte: “O delegado dos Estados Unidos da América sustentou que, embora fosse conveniente que as discussões se beneficiassem com os pontos de vista dessas organizações, os votos deveriam expressar apenas opiniões dos governos“ (UNESCO, 1963, p. 8). Não obstante, a lista de participantes revela que um enfoque tão rígido não foi favorecido pela maioria.
Hely também comenta as repercussões sobre o alto nível das pessoas que participaram da conferência:
Este é um amplo reconhecimento do aporte realizado tanto na teoria como na prática por pessoas de diversos países, como: André Basdevant, Jean Dumazédier, A. Léger ou André Terris na França, G.H.L. Schouten na Holanda; Hellmut Becker e H. Dolff, na Alemanha; Josef Barbag na Polônia; Joseph Vinarek na Tchecoslováquia; A.M. Ivanova e V.D. Voskresensky na URSS; Felix Adam na Venezuela (HELY, 1962, p. 58).
Nem todas as pessoas nomeadas acima assistiram à conferência, mas haviam colocado sua obra publicada à disposição em todo o mundo.
A Segunda Conferência Internacional também escolheu um nome de acordo com o espírito da época: A Educação de Adultos em um Mundo Mutável. Há que se reconhecer que isso também tinha sido abordado pela primeira conferência. A Declaração de Montreal, redigida por Frank Jessup, chefe de Estudos de Extramuros da Universidade de Oxford, como documento de debate e informação básica, começou “com uma frase crua sobre a sobrevivência”, como expressou duramente Roby Kidd (1974, p. 26). Apesar disso, a Declaração de Montreal expôs em seguida a gama de oportunidades e caminhos pelos quais a educação de adultos poderia esperar, de forma realista, para adequar-se a indivíduos e a sociedades com mais confiança em si mesmos e entusiasmo do que havia sido possível em Elsinore: “Cremos que a educação de adultos adquiriu tanta importância para a sobrevivência e a felicidade humana que é necessária uma nova atitude com respeito a ela”.
Em Montreal foram focalizados temas que pensamos ainda serem atuais:
Não obstante, os temas dos grupos de trabalho continuaram sendo relativamente estáticos, revisando terreno antigo, e as resoluções que encerraram a Conferência foram muito amplas, expressando desejos que ainda não se cumpriram.
Os próprios organizadores da Conferência se queixaram da desbordante avalanche de resoluções e de sua retórica. Seus títulos foram tão sistemáticos que cada um deles parecia ser indispensável se o sistema inteiro não estivesse sendo questionado. Esses títulos eram:
Seu enorme impacto não pode ser aqui analisado detalhadamente, mas deveria ser acrescentado que a Segunda Conferência Internacional já olhava para a terceira, e que começou a pensar em termos de uma revisão comparativa da forma da “educação de adultos em todo o mundo”.
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