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Tese de doutorado de pesquisadora do CE/UFPB recebe um prestigiado prêmio internacional na Itália
Márcia Maria Enéas Costa, doutora e pós-doutoranda em Ciências das Religiões, teve a notícia no penúltimo sábado (25/01) da premiação de sua tese pela Società Italiana di Storia delle Religioni (SISR), uma das instituições mais respeitadas na área dos estudos de Ciências das Religiões. A pesquisadora é servidora do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB. Márcia traz uma grande honra para o nosso Centro!
A SISR, fundada em 1951 pelo historiador Raffaele Pettazzoni, tem sido um pilar para a pesquisa histórica sobre as religiões, com uma trajetória marcada pela presença de grandes nomes como Angelo Brelich, Alessandro Bausani e Giulia Gasparro. A organização também é membro da European Association for the Study of Religions (EASR) e da International Association for the History of Religions (IAHR).
"Espero que essa premiação estimule mais pesquisadores brasileiros a submeterem seus trabalhos para avaliações internacionais e fortaleça o intercâmbio acadêmico entre o Brasil e outras instituições de prestígio ao redor do mundo." -- Márcia Costa
No Biênio 2022-2023, o prêmio "Em memória de Ugo Bianchi", ganhou este título em homenagem ao centenário de nascimento de Bianchi em 2022. Para o Biênio 2023-2024, o prêmio concedido pela SISR foi "Em memória de Raffaele Pettazzoni", pois em 2024 comemorou-se 100 anos da Cátedra de História das Religiões, fundada por Pettazzoni. Os trabalhos premiados abordaram a figura e a obra desses estudiosos ou desenvolveram temas relacionados à metodologia de pesquisa, às temáticas e aos campos de investigação desenvolvidos pelos autores.
Poderiam concorrer a cada um destes prêmios e seus respetivos editais, recém doutores italianos ou estrangeiros, que defenderam suas teses de doutorado nos biênios dos respectivos prêmios.
A tese de Márcia Costa foi destacada como a melhor entre as candidaturas do edital 2022-2023. A pesquisa, intitulada "Escola Italiana de História das Religiões. O legado do método histórico comparativo pettazzoniano entre seus sucessores", foi defendida em 2023 no PPGCR/CE/UFPB, com orientação da Profa. Dra. Maria Lucia Abaurre Gnerre (UFPB) e coorientação do Prof. Giovanni Casadio (Università di Salerno – UNISA, Itália).
Sendo avaliada por uma comissão de peso composta por figuras renomadas na área, como Natale Spineto, Giulia Gasparro e Concetta Giuffrè. Além da honraria, a pesquisadora foi premiada com a quantia de 750 euros, um feito histórico, já que é a primeira vez que a SISR concede esse prêmio a uma tese escrita em português.
Abordando o legado do método histórico comparativo de Pettazzoni e seus sucessores, a brasileira reflete sobre a metodologia e as temáticas desenvolvidas pela Escola Italiana de História das Religiões. Além disso, Márcia também foi uma das 86 mulheres selecionadas no Brasil pelo programa Atlânticas – Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, do CNPq, que oferece bolsas de doutorado sanduíche e pós-doutorado no exterior para pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas. Sua tese também foi indicada pelo PPGCR/CE/UFPB ao Prêmio Teses da Capes, destacando ainda mais a relevância de seu trabalho no cenário acadêmico brasileiro e internacional.
Em contato com a Assessoria de Comunicação do CE/UFPB, Márcia Costa concedeu uma entrevista exclusiva onde compartilha a influência do programa “Atlânticas” na sua jornada acadêmica, traça os próximos passos em sua carreira, além de impressões e desafios ao ser reconhecida internacionalmente. Confira a seguir os principais momentos dessa conversa.
Centro de Educação (CE): Como você se sentiu ao saber que sua tese foi reconhecida pela Società Italiana di Storia delle Religioni?
Márcia Costa (MC): Foi uma grande honra e uma imensa alegria receber esse reconhecimento da Società Italiana di Storia delle Religioni (SISR). Saber que meu trabalho foi avaliado e premiado por uma comissão composta por especialistas de renome internacional na área de História das Religiões reforça a importância da pesquisa que desenvolvi e da abordagem histórico-comparativa pettazzoniana. Além disso, o fato de ser a primeira vez que uma tese escrita em língua portuguesa recebe esse prêmio me dá grande satisfação, pois demonstra que a produção acadêmica brasileira tem conquistado espaço e visibilidade internacionalmente.
Esse reconhecimento também é um reflexo do trabalho desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões (PPGCR/CE/UFPB), que me proporcionou uma formação sólida e condições para o desenvolvimento dessa pesquisa. Sou profundamente grata à minha orientadora, profa. Dra. Maria Lucia Abaurre Gnerre (UFPB), e ao meu coorientador, Prof. Dr. Giovanni Casadio (Università di Salerno – UNISA/Itália), cujas orientações foram fundamentais para a construção desta tese.
CE: O que o trabalho de Pettazzoni significa para você e por que escolheu seguir essa linha de pesquisa?
MC: Raffaele Pettazzoni foi uma figura central no desenvolvimento dos estudos histórico-religiosos, e seu método comparativo influenciou gerações de pesquisadores. O seu compromisso com uma abordagem rigorosa e multidisciplinar para a compreensão dos fenômenos religiosos sempre me inspirou.
Escolhi seguir essa linha de pesquisa porque acredito que o método histórico-comparativo pettazzoniano ainda oferece instrumentos valiosos para a análise das religiões, especialmente quando aplicado com uma perspectiva crítica e contextualizada. Além disso, o estudo do legado de Pettazzoni e de seus sucessores me permitiu refletir sobre a continuidade e adaptação de suas ideias ao longo do tempo. Foi um desafio, mas com o apoio do PPGCR/CE/UFPB, da minha orientadora, do coorientador e todos os agentes que colaboraram com a construção do corpus, consegui desenvolver um trabalho que dialoga com as grandes tradições acadêmicas da área.
CE: Quais foram os principais desafios que você enfrentou durante o desenvolvimento da sua tese?
MC: O acesso a certas fontes primárias e secundárias fundamentais para a compreensão do desenvolvimento da Escola Italiana de História das Religiões. Embora a digitalização de arquivos tenha facilitado o processo, ainda há muitas publicações e documentos essenciais que exigem pesquisa em acervos físicos, especialmente na Itália.
Outro desafio foi consolidar uma análise crítica abrangente do método histórico-comparativo pettazzoniano, levando em conta suas influências, suas limitações e sua recepção por diferentes pesquisadores ao longo do século XX. Além disso, a escrita acadêmica em um campo tão consolidado como a História das Religiões exigiu um aprofundamento teórico e metodológico contínuo.
Felizmente, tive o suporte do PPGCR/CE/UFPB, dos meus orientadores e do apoio de colegas pesquisadores, que contribuíram com sugestões e discussões valiosas ao longo do processo.
CE: Este prêmio é uma honra, sendo especialmente a primeira vez que a SISR concede esse reconhecimento a uma tese escrita em português. Como você vê essa marca histórica para a pesquisa brasileira?
MC: É um marco significativo, pois reforça a qualidade e a relevância da pesquisa brasileira na área da História das Religiões. Historicamente, a produção acadêmica internacional tem sido dominada por publicações em inglês, francês, alemão e italiano, e essa conquista mostra que há espaço para o reconhecimento de trabalhos produzidos em outros idiomas. Espero que essa premiação estimule mais pesquisadores brasileiros a submeterem seus trabalhos para avaliações internacionais e fortaleça o intercâmbio acadêmico entre o Brasil e outras instituições de prestígio ao redor do mundo.
CE: Você também foi uma das selecionadas Chamada Atlânticas (Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência)/CNPq/Ministério da Igualdade Racial (MIR)/Ministério das Mulheres (MMulheres) e Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Como esse apoio influenciou a sua trajetória acadêmica?
MC: Ser selecionada foi um passo crucial na minha trajetória acadêmica. Esses órgãos viabilizaram a realização de meu pós-doc no exterior (PDS), permitindo aprofundar minha pesquisa, por meio de arquivos italianos e interagir com especialistas no campo da História das Religiões, como também representou um reconhecimento da importância da diversidade na ciência. A iniciativa desses órgãos em apoiar pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas demonstra um avanço na promoção da equidade acadêmica, algo fundamental para o fortalecimento da pesquisa no Brasil.
CE: Quais são seus próximos passos, tanto no campo da pesquisa quanto no ensino acadêmico?
MC: Pretendo dar continuidade às investigações sobre o método histórico-comparativo na História das Religiões, explorando suas aplicações contemporâneas e sua relação com outras abordagens metodológicas. Desejo também aprofundar a análise da recepção do pensamento de Pettazzoni em diferentes contextos acadêmicos e expandir o diálogo entre a Escola Italiana de História das Religiões e outras tradições historiográficas.
No campo do ensino, meu objetivo é contribuir para a formação de novos pesquisadores e incentivar, ainda mais, a abordagem interdisciplinar nos estudos religiosos, destacando a importância da pesquisa comparativa e do rigor metodológico. Também pretendo retribuir o apoio recebido do PPGCR/CE/UFPB, colaborando em projetos acadêmicos que fortaleçam ainda mais a área.
CE: Com a conquista desse prêmio, você sente que a pesquisa no campo das Ciências das Religiões no Brasil está ganhando mais visibilidade no cenário internacional?
MC: Sem dúvida. A premiação de uma tese brasileira por uma sociedade de prestígio como a SISR indica que a pesquisa em Ciências das Religiões no Brasil tem conquistado cada vez mais reconhecimento. Isso é resultado do esforço coletivo de pesquisadores que têm produzido estudos de alto nível, do incentivo à internacionalização dos programas de pós-graduação e do fortalecimento das redes de pesquisa.
Espero que essa visibilidade abra mais oportunidades para colaborações internacionais, intercâmbios acadêmicos e participação de pesquisadores brasileiros em eventos e publicações de destaque no cenário global. O PPGCR/CE/UFPB tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, promovendo a formação de pesquisadores qualificados e incentivando a produção de conhecimento de relevância internacional.
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Este prêmio reforça o compromisso da UFPB com a excelência acadêmica e com a formação de pesquisadores de destaque, demonstrando a crescente presença de vozes brasileiras no cenário internacional e da força do Centro de Educação para a contribuição com a Academia.
Leila Maria (ACOM/CE)